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caminho pelas imagens em busca de brechas. fendas de onde podem surgir subitamente, sussuros, grunhidos, frases. coisas que falem por si, que se digam estarem vivas. superfícies em que o tempo, em seu rito insistente, deixa-se ver, rastro inebriante da passagem. vazio envolvente, como a lembrança da pequena pedra que se molda acariciada indefinidamente pela água.









tateio as imagens de uma ilha que se desdobra sobre mim, ilha como duplo, meu duplo que se abre. nela, confidências banais, segredos, sussurros, gritos de pássaro que protege seu ninho. o contorno do ninho que o separa dos demais. porção de terra protegida neste sonho aquoso. sonho que se deixa enxergar no visível o traço do invisível, lá onde o real realiza as aparências do irreal. ilha onde ainda restam aberturas para se ver com olhos de máquina.















por baixo da pele dos sonhos a superfície me contorna e me separa da paisagem. eu sou a paisagem. parada no tempo que se move, tudo apenas vibra. a distância, longe, tão longe, perto. sim, sou eu. presença que absorve e irriga sua própria densidade nas coisas. a explosão no maxilar da boca. a dentada no pescoço da aurora. sim, sou eu, mas também és tu, presença. o subterrâneo nos conforma em carícias. no sentir, somos mistura.
















qual o sentido do contorno, pergunta-se, todas as vezes que passa com a câmera apontada para si. o retrato narcísico no jogo de esconde-esconde. a superfície e o poço. o porão de baixo da carne. a superfície da carne e o tempo do lado de dentro, sem luz e sem sombra. imóvel, contínua passagem. nas águas profundas o deslize tectônico entre o que foi e o que será, molda de dentro pra fora a beleza dos dias.




















enquanto eles decidem o mundo, se dilacera o silêncio, a semente se rompe, desabrocha a flor. instável instante entre a vida e a morte, passado que se faz futuro, presente fugaz. no piscar dos olhos, no fritar dos ovos, no clique da câmera, um ponto. ponto que não se deixa tocar, que define e separa o sim do não, a pedra da água, o depois do agora, o lá do cá.






















enquanto eles decidem o mundo

Fotografia digital. Livro em processo de edição.
2012 -


Trabalho fotográfico realizado no inverno de 2012, no sul da ilha de Florianópolis, durante residência artística autogestionada na Casinha do Matadeiro. Edição de imagens e textos, escritos e reescritos ao longo dos anos.


Agradecimentos
Mano Souza e Dan Baron
Dauana Parente