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Matérias


2020
 
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curadoria Camila Fialho
Galeria Theodoro Braga, Belém, Pa


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Produção: Rodrigo José Correia

Realizada com Prêmio Branco de Melo 2020 - incentivo à producão artística, Fundação Cultural do Pará.







Matérias
por Camila Fialho

A exposição Matérias de José Viana toma forma na Galeria Theodoro Braga ao fazer um elogio aos materiais que nos cercam de perto-longe. Do trabalho desenvolvido em ateliê, a experiência dos gestos desloca-se para a galeria em um convite à imaginação sobre as possíveis manipulações exigidas pelo corpo para a reconfiguração das peças no espaço.

Gipsita esmagada e calcinada quando adicionada de água torna-se moldável. Mineral encontrado em toda parte que acompanha o homem desde remotas datas na construção civil e nas artes decorativas. No campo da escultura, é tido como material secundário ou transitório dada sua fragilidade a longo termo, sua vulnerabilidade diante da umidade. Aqui, o gesso é matéria central para os movimentos poéticos em torno da confabulação das peças que nos recebem quando adentramos na área expositiva. Branco sobre branco, variantes de tons sutis. Releitura de formas humanas e arquiteturas profundas.  

Formas geométricas, ângulos, contornos, nuances arquitetônicas não escapam da percepção do corpo que experiencia o mundo e sente a presença das coisas. Movimento partido, uma semente crescente em oposição a sua forma plena. Viga sobre cubo. A água no alto de um totem. Escassez em veneração, entre o cheio e vazio. Para o artista, o espaço também configura matéria a ser explorada. A galeria, o consagrado cubo branco, campo fértil desde onde emerge a metalinguagem.

O ar, invisível audível, ecoa pelos quatro cantos do ambiente. Enche os pulmões, é expulso do corpo e sopra ao vento. Presença, ausência em sufocamento. O ar então se traduz em fogo e brota desde os pés desavisados em pequenas cuias vacilantes em rito de abertura. A luz efêmera se estende por um ciclo de tempo e se apaga.

Do teatro de sombras do ateliê, peso e leveza dançam no espaço. Duas barras, metal e linhas em fio de ouro, matérias em suspensão que trabalham em uma mesma frequência conferindo materialidades imprecisas ao acaso dos balanços provocados pelo ar. Horizontal, vertical em cruzamento perpendicular. Terra e mundo.

Breu, resina natural produzida por certas árvores quando submetidas a ferimentos. Com uma infinidade de aplicações, da música à dança, passando por rituais, tratamentos fitoterápicos e repelentes até calafetação de embarcações. Matéria-semente utilizada em outras incursões, em nova cadência, agora assume o lugar da resistência entre manipulação e experimentação de volumes. A pequena oca, um buraco negro e a ruína da matéria corroída pela insistência das intempéries entre sol e chuva, ferrugem. Uma lança no espaço.

O carvão desvia-se do desenho sobre papel e põe-se em diálogo com a matéria gesso. Em um espelhamento com relação à primeira sala, a madeira queimada é o que acolhe a estrutura do cubo branco. O desfecho possível para uma narrativa em abismo agencia outras conexões.

Em Matérias, José Viana celebra um ciclo de experiências com materiais relevantes para sua pesquisa ao largo dos últimos anos. Jogos e brincadeiras são fagulhas que permitem a transmutação poética de insumos disponíveis no dia a dia. Ao alcance das mãos, aguardam novas leituras agora daqueles que se dispõem ao diálogo com os ambientes criados pelo artista.


07 de setembro 2020.
Camila Fialho


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